terça-feira, 18 de agosto de 2009

Lei ou Leis?


Hoje estamos disponibilizando a resposta ao 3º argumento do Profº João Flávio:
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3. O Sábado faz parte da lei e esta foi por Cristo abolida totalmente: “... e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz”(Cl.2:14); “mas o entendimento lhes ficou endurecido. Pois até o dia de hoje, à leitura do velho pacto (a Lei), permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo é ele (a Lei e tudo o que nela está incluído, no nosso caso o Sábado) abolido” (II Cor.3:14). { Grifo do autor}.
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Os adventistas, para imporem a obrigatoriedade da guarda do Sábado, se valem de argumentos infundados estabelecendo uma distinção entre a Lei Moral e Lei Cerimonial, Lei de Deus e Lei de Moisés, dizendo que a Lei Moral ou lei de Deus se restringe aos 10 mandamentos e continuará para sempre, e que a Lei de Moisés ou Lei cerimonial abrange o Pentateuco escrito por Moisés e foi abolida. Essa distinção é imprópria e inescriturística. Vejamos:- “E chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da porta das águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o Livro da Lei de Moisés” (Ne.8:1). Observe a expressão “o livro da Lei de Moisés”. Este mesmo livro, denominado de “Lei de Moisés” é, a seguir, assim chamado: “E leram no livro, na Lei de Deus; e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse”; “E acharam escrito na Lei que o Senhor ordenará, pelo ministério de Moisés, ...”(Ne.8:8; 8:14)- “Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá”(Mc.7:10). Ora, nós sabemos pôr Êx. 20:12 que se trata do quinto mandamento, e, no entanto se diz que “Moisés disse”. - “Não vos deu Moisés a lei? No entanto nenhum de vós cumpre a lei. Por que procurais matar-me?” (Jo. 7:19). Onde a Lei proíbe o homicídio? Em Êx. 20:13, dentro dos dez mandamentos. O decálogo é chamado por Jesus de Lei de Moisés. O apóstolo Paulo chama o decálogo de Lei; “... pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera” (Rm.7:7). Para o apóstolo Lei mosaica e decálogo eram a mesma coisa. Essa divisão da lei em duas é artificial, sem qualquer apoio bíblico, mas fundamental para impor a guarda do Sábado na doutrina Adventista.


É impressionante o fato de grande parte dos professos mestres das Escrituras Sagradas não percebem a existência de mais de uma LEI na Bíblia. Fazem uma "salada" com os versos bíblicos, colocando tudo no mesmo nível, e utilizando passagens isoladas do contexto na tentativa de "provar" que os 10 Mandamentos não estão mais em vigor.

Infelizmente, aqueles que professam o Cristianismo em nossos dias, em sua grande maioria, pregam um desprezo à Lei de Deus, que beira a blasfêmia. Deus escreveu, com Seu próprio dedo, em tábuas de pedra, os 10 princípios que deveriam ser seguidos pelo Seu povo em todas as eras, pois tal Lei é o próprio reflexo do caráter do Senhor (cf. Êx 31:18; Jr 31:33; Hb 8:10). Por toda a Bíblia vemos que Ele sempre transmitiu mensagens de chamado à obediência para com a Lei moral.

Através dos escritores bíblicos, muitas foram as mensagens que deveriam servir de motivação para que o povo nunca se afastasse do cumprimento da Lei (cf. Sal. 89:30-32; todo o Sal. 119; Êx 16:14; Pv 7:2; Jr 9:13; 16:11; Os 8:1, 12; etc.).

Hoje em dia, porém, muitos alegam que “a Lei passou”, pois vivemos no chamado “tempo da graça”. Ora, isso soa estranho aos ouvidos de quem realmente conhece a Bíblia, pois a Lei e a graça sempre andaram juntas. A graça não existiu somente a partir do ministério terrestre de Jesus (cf. Sal. 6:4; 13:5; 40:10-11; 62:12; 66:20; 69:13; 89:14; Is 60:10; Zc 12:10; etc.); bem como a Lei moral não foi abolida na Cruz (cf. Mt 5:17-19; At 24:14; Rm 2:13; 3:20, 31; 7:7-8, 12; Tg 1:25; todo o cap. 2 de Tiago; 1Jo 3:4; etc.).

Aqueles que estudam a Bíblia destituídos de preconceitos, verão claramente que há uma Lei que nunca passou, nem passará, pois como poderíamos imaginar um Deus Criador e Mantenedor que não tem uma Lei para dirigir e julgar a vida do Seu povo?! Chega a ser um absurdo pensar assim!

Tomemos o exemplo de Paulo: Em Ef. 2:5 o apóstolo diz que Jesus “aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças”. Porém, no mesmo livro, em 6:1-3, Paulo aconselha os filhos a seguirem um Mandamento da Lei moral, que trata da honra devida ao pai e à mãe (cf. Êx 20:12). Como é possível!? A lei foi ou não abolida com o sacrifício de Cristo? Paulo está se contradizendo? Ou será que ele está tratando de duas leis diferentes...? Parece-me que esta última é a única alternativa lógica para solucionarmos tão “aparente” discrepância bíblica.
É claro que o grande apóstolo da graça tinha conhecimento de que existiam leis diferentes que conduziam a vida do povo de Deus, na época representando por Israel. Haviam as leis civis, que tratavam de assuntos ligados ao dia-a-dia comercial, político, econômico, familiar, pecuniário, etc (cf. Lv 25:35-38; Dt 15:12-18; etc.); haviam as leis de higiene, destinadas a manter um ambiente
livre de contaminações (cf. Dt 23:9-14); tinham também as leis destinadas à distinção entre animais limpos e imundos (cf. Lv 11); também aquelas referentes aos sacrifícios expiatórios do santuário, com todo o seu ritual e símbolos que apontavam ao Messias – eram as chamadas “leis cerimoniais” (podem ser vistas, por exemplo, em quase todo o livro de Levítico); assim como também havia a Lei moral, baseada nos 10 Mandamentos entregues a Moisés no Sinai (cf. Êx 20).

Dessas leis, a que Jesus “cravou na cruz” foi a que tratava dos aspectos simbólicos que deveriam retratar o Messias vindouro, o “Cordeiro” que resgataria o povo de Deus da escravidão do pecado (cf. Is 53). Todo esse cerimonialismo (ofertas de animais, derramamento de sangue inocente, purificações rituais do santuário, etc.), TUDO se cumpriu no sacrifício perfeito e eficaz que o Senhor Jesus Cristo realizou por nós no Calvário. Era dessa lei que Paulo estava tratando em Ef 2:15, uma lei baseada em “ordenanças” – figuras.

Porém, a Lei moral, firmada em tábuas de pedra, escrita pelo dedo do Criador e Redentor do mundo, nunca passou. Ela reflete dois princípios básicos, sobre os quais deve estar firmada a vida do servo de Deus:

1. Amar a Deus sobre todas as coisas (cf. Dt 6:5; Mt 22:37-38). Isto está perfeitamente traçado nos primeiros 4 Mandamentos, pois através do cumprimento deste grupo de preceitos demonstramos, realmente, se amamos a Deus acima de tudo – trabalho, família, riquezas, prazeres, amigos, etc. Muitos, por exemplo, não querem guardar o santo sábado para não perderem um emprego ou algum recurso financeiro que é conquistado aos sábados (feiras, comércio, etc.). Esses não estão amando a Deus sobre todas as coisas, pois estão demonstrando uma fé vacilante (cf. Sal 37:25).

2. Amar ao próximo como a nós mesmos (cf. Lv 19:18; Mt 22:39; Tg 2:8). Neste princípio divino baseiam-se os outros 6 Mandamentos da Lei moral. Guardando tais Mandamentos, estaremos demonstrando amor, respeito e consideração pelo nosso próximo, a começar pela própria família, especialmente os pais.
Jesus, de forma sábia (como Lhe era peculiar), mostrou que destes dois grandes princípios dependem não só a Lei, mas toda a Bíblia (cf. Mt 22:40).

Os Adventistas crêem neste maravilhoso ensino de Jesus, de que o amor é o cumprimento da Lei de Deus – primeiro para com Ele, e depois para com Suas criaturas. Muitos hoje dizem que amam a Deus, mas suas vidas demonstram que este é um amor frágil e conveniente, pois está baseado em um falso sentimento de “liberdade” para desobedecer a Sua Lei. Amar também envolve obedecer, pois a Bíblia é até “dura” ao chamar de “mentiroso” aquele que afirma amar e conhecer a Deus, mas que não está disposto a obedecê-Lo na guarda dos Mandamentos, custe o que custar (cf. 1Jo 2:4; Jo 14:15). Os que pensam assim (que a graça os liberta da obediência aos Mandamentos), encaixam-se perfeitamente na descrição bíblica sobre os apóstatas do primeiro século, que estavam transformando a graça de Deus em “libertinagem” (cf. Jd 4). Veja que coisa horrível!

Espero que você, caro leitor, analise com carinho e paciência este tema tão importante, pois envolve aspectos eternos. Você acredita que uma pessoa que não obedece a Deus pode considerar- se um “servo” dEle?

Autor: Matheus Nascimento